Segunda-feira de noite eu voltei para casa e a guirlanda de Natal da minha porta havia sido roubada. Era pequena, bem simples, mas levaram. Tinha uma pilha de guias telefônicos no bloco, talvez aconteceu por essa presença de estranhos. Prefiro acreditar que não foi nenhum vizinho.
Na hora lembrei da coluna que a Rosane Tremea escreveu como interina no lugar do Sant'ana, falando sobre a insegurança dos nossos dias e que quando morava em Anta Gorda, sua cidade natal era atormentada por um ladrão de guirlandas. E constata que bons tempos eram esses em que o único tormento era um crime desta natureza.
No dia seguinte vou de lotação para a aula que foi numa galeria de arte. Um passageiro e o motorista só falam em assaltos, roubos. Bons tempos em que sol e chuva motivavam os relacionamentos interpessoais e os papos clichês.
Quando estou voltando da aula, sofro uma tentativa de assalto. Quase em frente ao meu condomínio. Era meio-dia e 45 minutos. 12h45min! Sol alto! Eu subindo a lomba e o vagabundo descendo. Como eu poderia imaginar? Por quantos vizinhos já cruzei nesse percurso?
Eu tento esquecer a cena, talvez agora escrevendo, me livre disso. Nem vou contabilizar os outros assaltos. Mas é a segunda vez que reago. Ele acabou desistindo. Gritei e me agarrei na bolsa. Ficou um arranhão no braço. Ele sai com uma das alças na mão, chicoteando-se por ter sido infeliz no seu ato criminoso.
Entro em casa chorando e fico sem ar. Me preocupo mais com a minha reação. Sei que não deveria ter feito isso. Tenho uma nota de R$ 2,00 na bolsa e mais algumas moedas, quase R$ 5,00, mais o celular e meu óculos, pois estava usando o de sol. Sei que se perdesse os cartões e documentos, seria assaltada novamente, pois sai mais de R$ 100,00 para tirar segunda via de tudo.
Eu não vejo outra saida a não ser ter medo constantemente e duvidar de todas as pessoas que eu ver pela rua. Todas, sem exceção. Se vieram na minha direção, ou estiverem seguindo, vou ficar espiando, vou atravessar a rua. Eu já desconfio até de quem corre para pegar ônibus, mas vou ter que aumentar a vigilância. E o bandido, nem saiu correndo. Desceu a rua calmamente. Com a impunidade que existe, o cara simplesmente está passando e se vê que tem oportunidade, resolve assaltar e pronto. E azar o nosso.
Mas o que mais me marcou nessa tentativa, foi o fato de ser a luz do dia (eu não tenho justificativas como da outra vez que me assaltaram em frente a minha casa em Sapucaia, que era 1h da manhã, mas eu voltava do trabalho) e ser num local que eu não possa evitar, nem só passar de vem em quando.