Fui assistir a seqüência da saga da Noiva. Na verdade não é uma seqüência, é o Volume 2. Um filme com duração de quatro horas que foi dividido em duas partes porque este tempo não é aceito comercialmente. Isto fica claro, porque os créditos só aparecem no final deste. Bom, quem não assistiu e quer assistir, talvez seja melhor não ler a partir do próximo parágrafo, pois vou comentar livremente. Mas depois de assistir se quiser ler e comentar... pois quando saio do cinema tenho uma ânsia de falar sobre o filme e todas as coisas que ele me suscitou. O cinema é um dos poucos lugares que consigo ir sozinha, mas fico frustrada por não ter com quem conversar sobre o filme. E como eu queria que a mesma pessoa que estava ao meu lado quando assisti a primeira parte, terminasse de ver esta “dilogia” ao meu lado. Não seria mais do mesmo jeito, mas ainda assim poderia comentar todas as relações de sentido que encontrei e que agora que sento para escrever já nem lembro mais. E tenho certeza, que ele em sua mente semiótica teria tantas outras a acrescentar. Também somos da mesma natureza, como A Noiva e Bill. Quando olhamos a primeira parte, éramos capazes de jurarmos que ainda estaríamos juntos quando fosse lançada esta segunda. É, não sabíamos que o “pra sempre, sempre acaba”. Portanto, leia depois e se quiser comente alguma coisa comigo. Não será em tempo real como eu gostaria, mas já é alguma coisa.
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Quem gostou do esguicho de sangue da primeira parte e das muitas lutas vai se decepcionar. Tem sangue no V. 2 na medida certa, mas não sobrou lugar para o escracho e são menores as cenas de humor. Mas também não é isso que interessa, a gente quer saber se a “Mamba Negra” consegue kill Bill. A trilha sonora não é tão boa, ela faz referência às do V. 1, você acha que vai tocar aquela música, mas ela não se concretiza. E aquele som ensurdecedor do jingle de seriados de kung fu só toca uma vez nesta parte. Também descobri o quanto é feio o umbigo da Uma Thurman. Mas o filme não deixa de ter menos brilho, até porque você quer saber como vai terminar a matança desencadeada pela Noiva, e se pensarmos nele como um único filme dá para entender, e Tarantino o fez para ser um só.
No V. 1 o que permeava a trama era a filosofia das espadas samurais, desta vez é o treinamento de Pai Mei, o responsável por ter deixado Elle caolha. Fica-se sabendo o porque disso. E o treinamento que A Noiva realiza com este mestre a mim lembra Karate Kid. Mas foi uma homenagem de Tarantino a seus heróis de infância dos filmes de artes marciais de Hong Kong, da década de 70. E é interessante ver como esta personagem conquistou os seus mestres por sua determinação. Encanta também a taciturnidade da Noiva nos momentos certos, sem frases feitas e mostrando a grande coragem da mulher que busca comer seu prato frio da vingança. Já gostei do filme por causa disso. Ele começa dizendo que a vingança é um prato que se come frio e não tem verdade maior que esta. Depois disso aparece a cena da Noiva sendo baleada e Bill dizendo que se ela o considerava sádico, agora ele estava sendo masoquista. Se não me engano é isto, pois faz tempo que vi a primeira parte. E a segunda inicia exatamente do mesmo jeito, porém sem repetir o provérbio klingon.
A Noiva é enterrada viva, uma cena curiosa que com certeza mexe com a fobia de todo mundo. Uma cobra mamba aparece no filme e Elle descreve como ela é mortal, ou seja, quem é a personagem de Uma Thurman, o codinome não lhe foi dado a toa, e por isso também foi motivo de inveja, pois sua segunda vítima, a primeira a ser morta no V. 1 o queria para si. Mas a cena final e o modo como ela mata Bill é perfeito, sublime e ali se vê que ela ainda amava aquele homem. Afinal, os dois são da mesma natureza. Quando ela chega na casa dele e descobre sua filha e os três brincam como uma família feliz, uma mulher de coração mole como eu teria desistido da vingança e ficado com uma família completa. Mas Beatrix, sim este é seu nome, é determinada e corajosa. Ela mata o homem que ainda ama, mas ela tinha que fazer, afinal ele lhe deu um tiro na cabeça. Ato também cometido por amor. E a admiro por isso. Liquidou com quem a fez sofrer, embora ela também tenha provocado sofrimento.
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Devo adaptar isto para a minha realidade, matar seria esquecer, sim, devo esquecer e eliminar da minha vida aquele que amo, para então poder chorar, em seguida rir e dizer obrigada, obrigada e passar a viver uma nova vida, como faz Beatrix, num final não menos clichê.