exquisioTeorias

Esquizofrenias & Esquisitices

domingo, outubro 10, 2004

Beleza

“Vocês não fazem idéia de como eu agradeço essa vidinha idiota, mas um dia irão entender”. Assim termina o filme Beleza Americana, que acabo de assistir novamente. O personagem de Kevin Space narra o filme após sua morte, tipo Memórias Póstumas de Brás Cubas, do Machado de Assis. Pois é sobre a minha vidinha idiota que vou falar. Na falta de quem ter com quem compartilhar estas baboseiras do cotidiano, então escrevo.

Sábado, meu único dia de folga na semana. E neste, que resolvi sair e ir ao cinema, a televisão estava cheia de filmes bons. Na Sessão de Sábado, que passa a tarde na Globo, sempre tem muita porcaria. Hoje, era O Show de Truman. Assisti uma parte enquanto me vestia para sair. Fui ver Kill Bill V.2 (depois falo sobre ele).

Cheguei em casa e a novela já tinha acabado, estava dando o jogo do Brasil x Venezuela, pelas eliminatórias da Copa. Pois bem, precisava jantar e na solidão, a TV é a minha única companhia. Na MTV estava reprisando mais uma vez o VMB e justamente da parte onde tinha parado de ver na sexta a tarde, mas não estava com saco para ver. Na Band, comercial, na TVE uma entrevista com o Ibsen Pinheiro, até queria ver para conhecer sua história que só sei de ouvir aqui e ali. Mas também não estava com saco. Coloquei então o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que tenho gravado num CD, para me fazer companhia enquanto eu comia mais uma vez uma pizza. Como a minha realidade anda muito ruim, não é difícil que um filme ou programa de televisão me prenda... e assim assisti pela quarta vez esta obra do cinema francês, enquanto devorava uma barra de milka com avelãs... Terminado o filme, chorei é claro. Estou na idade da Amélie, encontrei o meu Nino, mas ele se foi. Não sei como foi com ela, porque o filme termina no início do romance, a parte boa, o que aconteceu depois, quem pode prever? E é por isso que gosto dos filmes. Se pudesse assistia uma atrás do outro, para viver num outro mundo, outra realidade. Este choro me levou ao que eu posso chamar de crise de abstinência, não de drogas, porque nunca tive coragem de usá-las. Teimosamente eu tento preservar a minha vida, embora ela nem sempre me de motivos para isso. Mas como bem disse o personagem de Beleza Americana, quando a gente morre acaba dando valor, então prefiro valorizá-la enquanto a tenho, embora isso seja um grande desafio. Tive abstinência de uma pessoa, que está bem viva e a dor não é menos pior por isso. Vontade de dar um abraço, sentir seu cheiro... Pois bem, passada a crise fiquei num estado de paralisação por um tempo. Quando saí deste transe, ligue a televisão. A não, antes disso ela desligou sozinha, não sei como. É certo que o cabo estava conectado no computador, mas o monitor já tinha entrado em stand by e a TV tinha ficado então com uma tela azul. Liguei então para ver se havia, por engano, mudado o horário programado para ela desligar. Mas não, lá estava 20h, e eram mais de 1h. Também quando saí a tinha desligado no botão e como isto o relógio fica zerado. Pois bem, eu sei que ela misteriosamente desligou sozinha e foi isso que me acordou. Então a liguei e estava dando Beleza Americana na TV, fiquei surpresa e comecei assistir. Mais um filme bom hoje e eu tinha perdido metade... Entrei novamente naquele mundo, e isso me faz bem, esqueço da realidade. Pois é, essa é a minha vidinha idiota. Espero poder agradecê-la por ela algum dia.