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Esquizofrenias & Esquisitices

segunda-feira, agosto 22, 2005

Der schauspielddirektor

O palavrão acima é o título original, em alemão, da ópera que assisti no sábado, no Theatro São Pedro. O empresário de teatro, de W. A. Mozart é uma adaptação brasileira de uma obra criada há mais de 200 anos. Para comemorar os 20 anos da Orquestra de Câmara de Porto Alegre, a ópera com versão inicalmente criada para o público carioca, foi adaptada para o gauchismo por Tatata Pimentel. Esta não era uma ópera tradicional, se enquadra numa categoria, que até o século 19, era chamada de singspiel, que é uma ópera alemã com diálogos entre as partes cantadas.

Bom, explicações a parte, gostei muito. Quanda o Orquestra tocou a abertura cheguei a levar um leve susto, um susto por dentro, uma dissonância entre meus olhos e ouvidos. Acostumada a escutar música clássica em aparelho de som, não parecia que o as notas vinham dos instrumentos, de tão perfeito. E descobri a beleza que vozes bonitas podem dar à música.

Bom, mas não foi tudo perfeito, embora superável pela beleza do espetáculo. Eu saí do trabalho no sábado e fui comprar meu ingresso. Só tinha para as galerias, os outros já haviam todos sido vendidos, inclusive na segunda-feira, quando terá uma segunda apresentação, só tinha mais alguns camarotes. Bom, se não havia escolha... deixando para segunda, eu acabaria não indo. Não sabia que tanta gente gostava de ópera em Porto Alegre, mas os dois decênio da Orquestra também motivava. Cheguei uma hora e dez minutos antes do espetáculo começar para conseguir o melhor lugar no pior lugar do teatro. Só eu, um grupo de senhoras e D. Eva.

Bom, mas quando foi aberto, lá pude escolher o melhor lugar na claustrofóbica Galeria Central. Pois sentei bem no meio, no segundo degrau. Eu tinha esperança de conseguir um lugar nos andares abaixo depois que o espetáculo começasse, mas deixei isso de lado... Sobrou lugares nos camarotes, naqueles que são piores que as galerias e também na primeira fila da platéia... de certo reservados para convidados que não vieram, mas não saí do meu lugar.

O texto com piadinhas superadas (a ópera era de humor) era totalmente dispensável, mas não chegou a incomodar. O que me perturbou foi um ícone pós-moderno. Pois fui pela primeira vez numa ópera, e não é que era legendada!? Tinha um telão traduzindo. Detestei! Não só por ser um contraste muito grande com o tipo de espetáculo, mas também porque fiquei atrás do magnifício lustre e só consegui ler alguns fragmentos. Mas deu para entender, até porque li sobre a história da ópera e este recurso era dispensável.

Bom, terminado o espetáculo, fui levada pelo meu vizinho de galeria a conhecer o barítono, que tinha sido seu professor. Cumprimeitei todos os artistas, visitei bastidores, vi o São Pedro do palco, conheci os camarins. Ouvi do barítono um comentário em off que se fosse em épocas do apogeu do teatro eu teria me tornado uma jornalista famosa por publicar isso. E presenciei uma cena muito singular. Quanto estive no camarim, o barítono estava vendo pela primeira vez uma irmã que tem por parte de pai. Esta seria uma boa pauta para um tipo de jornalismo que não se faz mais...

Só espero, que a casa praticamente lotada mostre a receptividade dos porto-alegrenses para óperas e que outras possam ser apresentadas no palco de nosso teatro.