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Esquizofrenias & Esquisitices

segunda-feira, maio 02, 2005

Antes do Pôr-do-Sol

Estou sempre me identificando com personagens de filmes e programas de televisão. Mas neste sábado, assisti Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset), a seqüência de Antes do Amanhecer (Before Sunrise). É engraçado ver como quando mais jovens, se entregaram a intimidade mais rapidamente. Agora. 9 anos depois, para trocarem um abraço, tiveram que quebrar uma barreira, uma distância que ia de uma margem do Siena a outra. Mas o que mais me chamou atenção é que todo o diálogo de Celine (Julie Delpy) na cena do barco e do carro são uma transcrição fiel de mim mesma, como se eu estivesse dizendo aquilo ou alguém que me conhecesse muito, mas muito bem, estivesse falando de mim. Tanto que copiei e vou descrevê-las aqui:

Cena do barco

“Sinto que sou anormal e não consigo seguir em frente.
As pessoas têm um caso, ou até relacionamentos. Terminam e esquecem tudo. Muda como trocam de marca de cereal.
Sinto que não esqueço as pessoas com as quais estive... porque cada um tem qualidades específicas. Não dá para substituir ninguém. O que foi perdido está perdido.
Cada relacionamento que termina me magoa. Nunca me recupero. Por isso, tenho cuidado quando me envolvo com alguém, porque dói demais.
Eu evito até transar porque vou sentir saudades de coisas mundanas daquela pessoa.
(...)
Não se pode substituir ninguém porque todo mundo é a soma de pequenos e belos detalhes.”

Cena do carro

“Agora, não acredito no amor. Não sinto mais nada pelas pessoas. É como se aquela noite tivesse dado tudo a você e você partiu. Senti que fiquei fria, como se o amor não existisse para mim. Sabe o quê? Para mim, realidade e amor são contraditórios.
É estranho, todos os meus ex-namorados estão casados.
(...)
Os homens saem comigo, terminamos, e eles se casam. Por que não me pediram? Eu teria recusado. Mas poderiam me pedir!
Sei que a culpa é minha. Nunca senti que era o homem certo.
O que significa isso? O amor de uma vida? O conceito é absurdo. Só nos completamos com outra pessoa. É sinistro!
Sofri demais e me recuperei. Agora, não faço força alguma. Sei que não vai dar em nada.
Parece que não ligo, mas estou morrendo por dentro.
Estou amortecida. Não sinto dor nem excitação. Não estou amargurada...”

E como ela, também peço desculpa pelo meu desabafo. Quem ler post antigos, talvez faça uma ligação deste meu perfil.

Nestas cenas, me segurei para não chorar, pois com a visão embaçada não poderia continuar descobrindo verdades sobre mim. Mas depois deixei cair algumas lágrimas. Afinal, uma pessoa com quem passei muito mais do que uma noite e que também encontrei quando tinha 23 anos jamais escreverá um livro sobre mim, jamais vai me encontrar daqui 9 anos, quando eu estiver com 32, como Celine. A minha diferença entre estas personagens com quem tanto me identifico, é que não tenho alguém para voltar ou encontrar. Afinal, isso aqui é a vida real. Não é filme!

Na verdade, eu passei dois momentos muito especiais com uma pessoa e um foi antes do amanhecer e outro antes do pôr-do-sol! Nesta ordem, também, uma coincidência incrível. Porém, entre um encontro e outro não houve um intervalo de nove anos. Mas depois disso, um distanciamento de 90 dias. Ou mais, ainda não sei. Será que essa pessoa vai perder o vôo para compartilhar um momento comigo? Só sei que eu esperaria nove anos para saber...