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Esquizofrenias & Esquisitices

segunda-feira, março 14, 2005

Diferentes?

Fui ver Mar Adentro e chorei muito durante o filme. Não simplesmente por ele ser triste, mas porque me identifiquei. Tudo que cria identificação com a gente nos marca mais. Tenho um irmão paraplégico. Isso é bem pouca coisa, pois ele faz tudo, inclusive anda, anda de cadeira de rodas, ele só não caminha. Movimenta o corpo com uma agilidade e uma força que eu e qualquer outra pessoa não tem. Com nove anos, sem nunca ter feito musculação, seu peito já é definido, tal a força que faz com seus braços.

Gostei muito da resposta que Sampedro deu ao lhe perguntarem porque ele sorria tanto. Ele disse que quando se precisa dos outros, se aprende atá a chorar sorrindo. E lembrei do Gabriel, que apesar de tudo, é uma criança muito feliz. Já tem altos e baixos de adulto, mas na maior parte parece ser feliz. Minha mãe estava me contando no telefone que ele andou meio revoltado estes dias, dizendo que ele não era normal. A gente tenta deixar a vida dele o mais normal possível e dizer que ele o é e mostrar que tem outras pessoas com problemas. Mas ele tem necessidades especiais, não dá para negar. A minha vontade é de me revoltar com ele também. Afinal, porque ele não nasceu como eu e minha irmã e como a maioria das pessoas? É uma droga andar naquela cadeira sim, não passa em todos os lugares, há sempre obstáculos a enfrentar. As pessoas o olham com curiosidade, dá vontade de mandar elas irem a pu! Mas a gente acaba se apegando em coisas como "Se Deus permite nascer uma criança diferente é porque ainda acredita na humanidade". Às vezes questiono tais decisões divinas, se é que eleas existem. O único remédio para isso é lhe dar muito amor e isso ele sente da gente, tanto que consegue ser ou parecer feliz na maior parte do tempo. Mas não sei até quando as coisas vão ser assim. Se nós que temos tudo perfeito acabamos nos desiludindo com a vida com o passar dos anos! E ele, no fundo de seu coração de menino, alimenta que um dia ele vai se livrar da cadeira. E o que tudo indica, é que cada vez ele vai usá-la mais. Pois agora, enquanto é criança ele vive no chão, se arrastando, mas quanto maior ele ficar, pior vai ser. Já está sendo muito difícil para nós erguê-lo do chão, tem que se fazer uma força tremenda. Minha mãe tem 45 anos e faz musculação todos os dias para poder manter a forma. É uma guerreira. Como meu irmão também é, pois levantar-se para ele todos os dias é um desafio, tal é o cansaço que ele sente em seu corpo, seja nos seus braços por carregar todo seu corpo com eles, seja pelo dolorido da gente pegar ele de mau jeito devido ao seu peso. E essas dores não são as piores. Seu desafio diário maior é mostrar as pessoas que ele não é diferente, que ele quer ser olhado como se olha um estranho, com indiferença. Porque ninguém vira o pescoço para olhar quem quer que seja na rua. Seu desafio é conseguir ter força para subir uma rampa, quando não tem que pedir que alguém tire seu carro de cima dela. É torcer para que não tenha uma escada, ou uma pedra no seu caminho. É poder jogar futebol na escola, sendo goleiro. É torcer para que onde ele for, as pessoas se adaptem a sua condição e o deixem ser o que ele é: uma criança.