Das coisas de antigamente
Sexta-feira passada, vou até o bar jantar entre o trabalho de uma edição e outra e uma rodinha conversa animadamente: Claudio Brito, Paulo San'tana, o Kadão e mais alguns que não lembro. Quando o Claudio Brito abriu os braços e começou a cantar alto prestei atenção neles. O papo seguia... relembravam velhos tempos. Coisas diversas, assim como nossa geração relembra os anos 80, dizendo lembra do Atari, do Pogoball, do bilboquê? Pois bem, eles falavam de coisas béeem mais antigas, tipo de 1958. Comentei com o Luiz Domingues que eles estavam falando de coisas de uma época em que nem minha mãe era nascida! Ele pediu que eu repetisse pra eles o comentário pois era bem pertinente. O San'tana olhou para minha cara de fedelha e balançou a cabeça e o cigarro afirmativamente. Como eles estavam obstruindo a entrada, pedi licença para passar naquele túnel do tempo e voltei ao trabalho.
Domingo, quando estou terminando de ler o jornal me deparo com a coluna do San'tana, relembrando os bons e velhos armazéns. A maioria das coisas que ele escreve me levam aos meus tempos de criança! Sim, as vendas, onde eu comprava cera em pacotinho pra mãe. Eu vivi muito dessas coisas. Meu avô materno teve armazéns a vida toda e dos sete filhos, pelo menos cinco deles tiveram uma venda também, inclusive meus pais, antes de eu nascer. Mas quando eu ia visitar o vô ou o tio Hélio, era no armazém que eu ficava. Adorava ajudar a atender os clientes e enfiar os dedos igual a Amélie Poulain nos sacos de grãos. As meninas disputavam para ficar atendendo na parte de brinquedos e miudezas. Mas o grande mérito era quando o vô ou o tio nos deixava ficar no caixa. Aí sim, os outros primos ficavam com a cara no chão! Tinha que saber dar o troco e todo mundo queria colocar a mão na registradora. Aquelas antigas, de manivela. A única coisa que eu não gostava era de ficar na balança. Até hoje não sei como funcionava quando passava de não sei quantos quilos e nem calcular o valor sobre o peso. A única coisa legal nesse balcão era uma engenhoca que o tio fez para a caneta não sumir dali. Era amarrada num barbante e ficava sobre a cabeça. Quando precisava usar, era só puxar que um pesinho lá na ponta fazia o serviço.
Essa coluna me transportou há tempos remotos, que eu nem recordava mais... Continua tendo muita coisa que nunca ouvi falar, tal como na conversa que descrevi no início do post, mas tantas coisas que eu conheci e nem lembrava mais: Detefon, Boa Noite, Biotônico Fontoura (tá esse é inesquecível e traumático), cera Parquetina!
Este trecho: " quando incomodamente o bodegueiro interrompia o meu sonho de consumo, com autoridade eu lhe pedia que me desse um mandolate e três ou quatro unidades de bala de goma"... pois na nossa época se dizia assim: "Tio, me vê tudo de bala!"...
O colunista justifica estar lembrando de todas essas coisas porque "sobrevém uma deliciosa nostalgia dos tempos de guri". Pois na sexta, quando passei naquela rodinha, jamais poderia imaginar que as lembranças do meu tempo de guria também têm semelhanças como as do Sant'ana.
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