Aos amassos e afagos
Terminei de ler A Tapas e Pontapés , do Diogo Mainardi. Comentei com quem me emprestou o livro que eu não estava gostando. Disse me que eu ia começar a gostar quando ele falasse do filho e... bingo!
O capítulo com este tema começa com ele falando em sua recusa pela paternidade.
"Muito melhor que uma criança é um macaco. Ter um filho equivale a enfiar um estranho dentro de casa. É como se eu levasse o gerente do meu banco para morar comigo e, ainda por cima, passasse a sustentá-lo."
Menos ortodoxa, eu também não quero ter filhos. E quando Mainardi descobre que vai ser pai, como mesmo define "esmoreci". Minha primeira risada do livro é quando Diogo escreve:
"Vejo-me como um pai presente e apreensivo. Só penso e só falo no meu filho. Meu filho me transformou numa pessoa pior".
Com 7 meses descobriu que seu bebê tinha paralisia cerebral. Após ler isso, a primeira coisa que passou pela minha cabeça é que Deus castiga. Mas sendo assim, também teria castigado a minha mãe por ter um filho deficiente. Comecei a gostar do Mainardi a partir daí, porque assim como acontece com meu irmão, que apenas não caminha, as pessoas sempre pensam que pode ter alguma deficiência mental, como pensam do rebento dele. Emoreci também, em relação ao articulista. Valeu a pena pagar para ver. Até penso em lhe escrever. Mas sinceramente, vendo a sua aparente ambiguidade, não sei o que ele pensaria de mim e de minha "cartinha". Mas acho que o Tadeu tem razão, ele escreve as barbariedades para que os outros pensem a respeito e não por ser um mau elemento. E devo reconhecer: ele sabe argumentar, sabe debochar, sabe ironizar... Ao contrário das pessoas que tentam se defender dele e partem para ofensa pessoal. Quem faz isso é porque não sabe usar os argumentos ou tem culpa mesmo no cartório.
Diogo fala uma coisa verdadeira, que os pais de filhos com alguma deficiência tem sempre mais orgulho de seus filhos. Isto porque vemos no dia a dia, a superação deles em relação a coisas simples para nós, e o que é melhor, ainda superam-se naquilo que as pessoas sem necessidades especiais também fazem. Na verdade, acho que Deus escolhe quem deve ter filhos assim.
O final do livro é um ápice, gostei (já tenho fama de entregar final de filmes, agora também vou ter dos livros, então não leia se você pretende ler a obra). Mainardi termina com as lições que aprendeu com Ivan Lessa, que ele diz ser o maior escritor brasileiro "só que o Brasil é tão desgraçado que nosso maior escritor nunca se interessou em escrever um livro". As lições são: "Lição número 1: não escreva. Lição número 2: se realmente tiver de escrever, 'trate o resto da humanidade aos tapas e pontapés'".
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